Temos talento, temos criatividade, temos vontade, mas falta-nos estrutura.
Nos últimos anos, Angola assistiu ao nascimento de um verdadeiro boom no sector do marketing digital. As redes sociais transformaram-se em montras vibrantes de marcas, negócios e influenciadores. Há uma energia contagiante no ar. As campanhas ganham alcance, os criativos surpreendem pela originalidade e o mercado, aos poucos, vai reconhecendo o valor da comunicação digital.
Mas por detrás desse progresso visível, existe uma realidade preocupante: o nosso crescimento está a acontecer sobre uma base instável. Estamos a erguer um castelo sobre areias movediças.
Grande parte dos profissionais que hoje lideram iniciativas de marketing digital no país não tem formação formal na área. São autodidactas, pessoas que aprenderam na prática, que se reinventaram, que meteram as mãos na massa e fizeram acontecer. E isso é admirável. É preciso ter garra para trilhar um caminho assim.
Mas só a garra não basta.
O problema não está na prática, mas sim na ausência de teoria que sustenta essa prática. A falta de fundamentos sólidos compromete a estratégia. E sem estratégia, o marketing digital torna-se apenas um conjunto de acções isoladas – criativas, sim – mas muitas vezes desconectadas de um propósito maior.
Na prática, o que vemos?
- Estratégias construídas com base no “feeling”, em vez de dados, análise de mercado e conhecimento científico.
- Marcas com presença digital visível, mas sem identidade verbal, visual ou posicionamento coerente.
- Campanhas celebradas pelo alcance e engajamento, mas sem conversão, sem retorno real, sem propósito mensurável.
- Orçamentos aplicados com pouca ou nenhuma visão de ROI (Retorno sobre o Investimento), LTV (Valor do Cliente ao Longo da Vida), CAC (Custo de Aquisição de Cliente), simplesmente porque estes conceitos nem sempre são do domínio dos profissionais que os gerem.
- Conteúdo criativo e bem produzido, mas sem estar ancorado numa estratégia clara, numa jornada do consumidor bem definida ou numa proposta de valor distinta.
Tudo isto é reflexo de uma realidade: confundimos marketing com publicidade e subestimamos a complexidade da disciplina. O marketing não se resume a fazer publicações bonitas, nem a slogans criativos. O marketing, enquanto ciência, envolve comportamento do consumidor, estatística, economia, psicologia, branding, análise de dados, finanças, estratégia empresarial e muito mais. É um campo vasto, interdisciplinar e cada vez mais técnico.
E é precisamente aí que reside a grande lacuna: muitos profissionais angolanos têm conhecimento prático sobre ferramentas, redes sociais, produção de conteúdo, mas não dominam os fundamentos estruturantes do marketing enquanto área de estudo. Não por falta de capacidade, mas por falta de acesso e incentivo à formação académica e técnica de qualidade.
É por isso que precisamos de mais do que workshops pontuais ou tutoriais no YouTube. Precisamos de formação sistemática, rigorosa e contínua. Precisamos de universidades fortes, de currículos actualizados, de professores experientes e de ambientes onde se aprenda a pensar marketing – e não apenas a executá-lo.

Marcelino Caoio
Gestor de Tráfego Pago e Fundador da Viralize
Gestor de Projectos Digitais na Anda