Há datas que não se celebram apenas — sentem-se! A celebração dos 6 anos do Multicaixa Express (MCX Express) é, para mim, uma dessas datas. Não apenas porque a aplicação é hoje uma referência nacional em serviços financeiros digitais, mas porque tive o privilégio de estar lá desde o primeiro momento, o primeiro brainstorm, a primeira linha de código.
Estive envolvido desde a concepção inicial que começou há quase 10 anos, entre 2015 e 2016, quando ainda se chamava “Wallet Multicaixa”, até à fase de maturidade, a partir de 2019, como principal dinamizador e gestor de produto (do lado do fornecedor). Foram anos de dedicação total — e de enorme aprendizagem.
O desafio era claro: lançar uma aplicação de pagamentos num mercado onde menos de 30% da população era bancarizada, e com uma penetração de smartphones muito, mas muito reduzida. Em muitos países, seria uma barreira. Em Angola, com a EMIS, foi uma oportunidade de inovação.
Um início corajoso com ciclos de iteração agressivos
Os primeiros meses foram intensos. Tivemos múltiplas iterações de design, funcionalidades e fluxos de navegação. Era o verdadeiro exemplo do que Robert G. Cooper define como um dos factores diferenciadores (Spiral Development) no seu livro “Winning at New Products” — um ciclo contínuo de prototipagem, testes com utilizadores e melhoria rápida.
Essa abordagem ágil, numa fase muito inicial, permitiu-nos adaptar a aplicação às reais necessidades dos angolanos, quase em “live motion”. Não estávamos apenas a desenvolver uma APP — estávamos a criar uma nova forma de relacionamento com o dinheiro, com impacto directo no quotidiano das pessoas. E tudo isso feito com um cuidado extremo com a qualidade e segurança, outro factor de sucesso fundamental segundo Cooper. Não houve atalhos. A segurança foi uma prioridade desde o dia um. A performance foi continuamente optimizada.
A simplicidade como diferencial
Uma das decisões mais importantes — e certeiras — foi optar pela simplicidade. Padrões de design limpos: poucas cores, menus directos, zero floreados. Esta clareza visual e funcional contribuiu directamente para a adesão massiva à aplicação. O MCX Express não intimida o utilizador — acolhe-o.
Numa era em que muitas aplicações financeiras competem em complexidade e múltiplas funcionalidades, o MCX Express destacou-se por entregar o essencial, de forma clara. E isso faz toda a diferença, especialmente num contexto com baixos níveis de literacia digital e financeira.
Benefício real, sempre no centro
Como descreve Cooper num dos factores de sucesso (Proposta de Valor “Superior”), o sucesso de um produto depende, antes de tudo, de entregar um benefício claro e diferenciador. O MCX Express sempre soube o que oferecia: acesso rápido, seguro e directo ao dinheiro e aos pagamentos do dia-a-dia. O mote inicial foi a “carteira no telemóvel”. Isso nunca mudou — e é essa consistência que fideliza.
Mesmo com todas as melhorias e evoluções, o produto nunca perdeu o foco no benefício real. Não foi construído à volta de funcionalidades, mas à volta de simplificar a vida das pessoas (alavancado pela época da pandemia provocada pela COVID-19, convém ser justo).
Os resultados: um caso de sucesso
Hoje, 6 anos depois, o impacto do MCX Express é extraordinário:
- +3 milhões de cartões registados;
- +2 milhões de utilizadores válidos;
- Em média, perto de 1 milhão de utilizadores com actividade diária;
- +58% de todas as transações da rede MULTICAIXA;
- Crescimento mensal médio de 5% em base de utilizadores (MoM);
- Volume de transações a duplicar a cada ano (YoY).
E talvez o dado mais impressionante e raro: o MCX Express tem maior utilização que grande parte das redes sociais em Angola.
Segundo o Digital 2025: Angola – DataReportal, o Instagram tem actualmente em Angola 908 mil utilizadores. Ao passo que o LinkedIn está com cerca de 1,2 milhão.
É, muito provavelmente, um dos poucos países do mundo onde uma aplicação de pagamentos supera as redes sociais globais em termos de utilizadores base e frequência de uso.
E tudo isto num país com cerca de 32% de bancarização, cerca de 7 milhões de cartões activos, dos quais mais de 3 milhões estão no MCX Express, e com uma penetração de internet inferior a 45%.
Gestão de produto no contexto africano: um caso de estudo
O MCX Express é mais do que um caso de sucesso local — é um caso de estudo relevante para todo o continente africano. Mostra como a boa gestão de um produto digital/tecnológico, mesmo em contextos adversos, e numa região com baixa literacia digital e penetração de internet, pode gerar impacto real. Pode mudar a vida das pessoas.
Desde o início houve:
- Foco no utilizador, não na tecnologia;
- Capacidade de adaptação rápida, com ciclos iteractivos curtos;
- Simplicidade como princípio de design;
- Compromisso com a proposta de valor “original”;
- Rigor na execução, sem compromissos na qualidade (sem atalhos);
- Correu tudo bem ao longo destes 6 anos? Não! Mas isso fica para outro dia.
O que vem a seguir?
Com 6 anos completos, o MCX Express está agora numa nova fase (grande expectativa!). Mas os princípios devem manter-se: foco no utilizador, simplicidade, consistência no benefício inicial, e evolução constante em segurança, sem comprometer a sua essência.
O MCX Express representa uma parte importante da minha carreira, e acima de tudo, uma grande aprendizagem. Foi um privilégio contribuir para este produto e ver o impacto (positivo) real que tem na vida das pessoas.
Parabéns à equipa do MCX Express, parabéns à Rede MULTICAIXA e à EMIS.
O trabalho continua.

Eduardo Bettencourt
Administrador Executivo da EMIS