A formação é um custo. Ou é isso que muitos ainda pensam…
É assim que muitas empresas ainda encaram o desenvolvimento de pessoas — como uma despesa que pode ser adiada, negociada ou simplesmente cortada. Especialmente quando os orçamentos apertam, o “investimento em pessoas” costuma ser o primeiro a sair da lista de prioridades.
Mas será que faz mesmo sentido tomar esse tipo de decisão de gestão, tida por muitos financeiros como inteligente e de grande valor?
A velha máxima: “Quem quiser, que se forme por si”
No mundo actual onde a informação é produzida a uma velocidade avassaladora, não estudar é condenar-se ao atraso. A autodisciplina e a busca por conhecimento são hoje quase uma questão de sobrevivência profissional. Mas usar isso como desculpa para não investir em formação corporativa é perigoso e incoerente.
É comum ouvirmos que o desenvolvimento é responsabilidade do colaborador. Sim, é, mas não só dele. Apesar de sermos todos responsáveis pelo nosso próprio crescimento, é quase impossível investir o salário que nos é pago (na maioria das vezes, baixo por diversos motivos) numa formação que nem sabemos se está alinhada com os objectivos da empresa.
Entendo esta história bonita do auto desenvolvimento, mas para mim é uma ilusão. Porque, para a maior parte das pessoas, investir no seu próprio crescimento quando ainda têm de escolher entre comprar uma caixa de coxa de frango ou fazer uma formação… não faz sentido.
Sim, é desejável que os colaboradores se preocupem com o seu desenvolvimento. Mas se as empresas estiverem a depender apenas dessas iniciativas para evoluir as suas equipas, teremos de viver 300 anos para ver evolução, e mais 300 para ver resultados.
Algumas empresas exigem sem oferecer, e estão a falhar. Não se pode exigir de alguém aquilo que nunca lhe foi ensinado ou preparado para entregar. Se contratamos alguém sem domínio de uma competência crítica, é nosso papel como empresa criar o caminho para que essa competência exista.
Ou seja, a exigência só é legítima quando acompanhada da preparação. Queremos profissionais fluentes em inglês? Então ofereçamos formações de inglês. Queremos mais produtividade? Então formemos em métodos e ferramentas que promevem a maximização da produtividade.
Exigir sem investir é querer o fruto sem plantar a semente. Além disso, é necessário formar com direcção, não por moda. É verdade, formação sem propósito é prejuízo. As empresas não devem investir em cursos “porque sim”, nem em formações desalinhadas com os objectivos estratégicos. Mas isso não significa não investir. Significa formar com inteligência, clareza e foco.
Não faz sentido pagar formações de inglês a quem só se comunica em português com os clientes. Mas talvez faça todo o sentido formar essa mesma pessoa em atendimento ao cliente, soft skills ou novas tecnologias. Formar por excepção é desorganização, formar por estratégia é gestão.
Formar não precisa ser caro
Outro argumento comum: “Não há orçamento”. Mas a verdade é que formar nunca foi tão acessível como hoje. Há centenas de formações gratuitas — online, certificadas e com conteúdos de alta qualidade que podem ser integradas a programas de formação, desenvolvimento interno ou planos individuais.
O que falta, na maioria dos casos, não é dinheiro, mas sim visão e vontade de agir. Muitos ainda estão presos ao Chiavenato, como se ele fosse a última verdade sobre RH, e de lá não querem sair.
Com o básico disponível, é possível começar hoje mesmo a desenvolver equipas, mesmo com poucos recursos.
A verdade: empresas precisam de movimento
Outro mito perigoso é o medo de “formar demais” e ver os colaboradores saírem. Mas a pergunta certa é: e se não formarmos e eles ficarem?
Pessoas estagnadas criam empresas estagnadas. Pior ainda, criam empresas ocas por dentro, com um potencial cada vez mais distante da realidade do mercado.
Formar, mesmo que alguém vá sair depois, ainda é investimento. Porque uma empresa que forma, inova, inspira e atrai. E porque um mercado em movimento saudável favorece a economia, eleva a competitividade e melhora o desempenho de todos.
Formar é estratégia, não caridade
Enquanto continuarmos a ver a formação como um custo, e não como parte da estratégia de crescimento, inovação e retenção de talentos, estaremos a cavar buracos dentro das nossas próprias estruturas.
O mercado não espera, a inovação não espera — e os melhores talentos também não. Mais do que nunca, formar é investir em agilidade, adaptabilidade e longevidade. Porque quem não forma… forma batatas podres. E ninguém quer uma empresa oca por dentro.

Ivo Guimarães
Gestor de Talento
RH Analítico e Transformação Digital.