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Trabalhar mais uma hora na semana de ponte e feriado prolongado: o mito da produtividade

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Por Targeting
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A Magui acorda às 05h30, porque vive no Kilamba e trabalha no centro da cidade de Luanda. Para apoiar os filhos e cumprir as suas funções domésticas, como esposa do Kiluange, tem de meter o pé na estrada extremamente cedo. Todos os dias, faz o mesmo percurso: sai de casa cedo, chega às 08h00 ao escritório e inicia o trabalho. Mas, na semana que antecede ao feriado-ponte, algo muda: a empresa estende o expediente em 60 minutos, de segunda a quinta-feira, para supostamente “recuperar” os dias perdidos. Magui, já cansada pela viagem e pelas responsabilidades em casa, vê a sua jornada diária se estender até às 18h00 — sem uma tarefa extra real, apenas uma obrigação legal – “o patrão é que manda”, já diziam os nossos pais… Mesmo a mandar mal. Risos.

A lei não obriga, mas “recomenda”

A prática de “sair uma hora mais tarde” é uma prática utilizada como forma de repor horas perdidas, mas não é obrigatória — cabe ao empregador acordar com os trabalhadores uma eventual extensão da jornada. Apesar de aplicada como recomendação, não como imposição absoluta, converge para unanimidade prática no sector público e em grandes empresas privadas. O peso de fazer gestão de pessoas com a lei debaixo do braço sem olhar para contextos e modelos de negócio demonstra que as empresas só usam esta prática porque sim, em Angola, ainda não há estudos que comprovem que tais horas adicionais antes do feriado gerem realmente ganhos de produtividade.

Já não podemos trabalhar só por trabalhar

No escritório, Magui continua a realizar os mesmos relatórios semanais, atender à agenda de reuniões e responder e-mails técnicos — agora com o relógio a marcar uma hora a mais de permanência. Essa “hora extra invisível” não altera o volume de trabalho; apenas prorroga o tempo de espera pelo próximo compromisso. O resultado? Zero!

● Fadiga acumulada: passar cinco dias seguidos saindo uma hora mais tarde eleva o cansaço físico e mental.

● Desmotivação: sentir-se obrigada a ficar “só porque a lei recomenda”, mas faz sentido nenhum. Ajuda a perder o sentimento de pertença pela empresa.

● Sem impacto nenhum: projectos não andam mais rápido, e clientes internos não reportam diferenças na qualidade das entregas.

Sem dados, seguimos no escuro

Apesar das conversas de corredor sobre a produtividade “caindo” após feriados ou “ponte”, afinal as pessoas chegam mais cansadas do que nunca, obrigando a horas extras. Não existe estudo público em Angola que relacione esses feriados-compensação com indicadores reais de eficiência. Se estendemos o expediente sem medir resultados, tomamos decisões baseadas em hábito, não em evidências. No final do dia, se fizermos contas, podemos estar a investir numa prática sem retorno real.

Qualidade das horas trabalhadas: o verdadeiro motor

As empresas angolanas — incluindo a que emprega Magui — não podem se dar ao luxo de confundir presença com performance. Em vez de acrescentar horas, devem focar em indicadores que revelem a qualidade do tempo de trabalho.Só assim saberemos se cada hora adicional agrega valor.
Sentar pessoas por uma questão de horário é muito superficial e quase doentio.
No mundo empresarial não se podem tomar decisões sem um racional lógico e mensurável por trás.

Caminhos para uma compensação inteligente

Para evitar o ritual vazio da “hora extra pré-feriado”, as empresas podem adoptar práticas mais flexíveis e baseadas em dados como o trabalho híbrido se tiver condições ou compensação por objectivos. Há várias soluções com retorno mais provável.

Conclusão: hora de repensar

Se prolongar o expediente — antes do feriado-ponte — não gera ganhos palpáveis, é hora de abandonar o costume e olhar para o que realmente gera lucro para a sua empresa. Magui não precisa de mais tempo no escritório, mas de tarefas com propósito e, metas claras. Só assim a gestão de pessoas passará de um ritual de horas para uma ciência de resultados.

Ivo Guimarães

Gestor de Talento
RH Analítico e Transformação Digital.

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