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Nem máquina, nem super-herói: só um profissional cansado

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Por Targeting
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Vivemos numa era em que a performance se tornou um fétiche, a produtividade virou identidade, e a imagem de sucesso, mais do que conquista, tornou-se uma obrigação. O profissional actual parece estar sempre em palco, onde cada acção tem de ser “partilhável”, cada vitória tem de gerar impacto e cada rotina precisa de ser optimizada ao limite. Mas, no meio desta busca por excelência ininterrupta, surge uma pergunta essencial: onde fica o ser humano por detrás da performance?

Nos últimos anos, a ideia de “alta performance” foi capturada por uma lógica tóxica de produção contínua, onde o valor do profissional é medido pela sua capacidade de estar sempre disponível, eficaz e motivado. Não basta ser competente, é preciso parecer incansável. O resultado? Uma geração de profissionais exaustos, ansiosos e, muitas vezes, silenciosamente adoecidos.

A cultura da alta performance, que deveria impulsionar o desenvolvimento sustentável de competências, transformou-se num culto à hiperprodutividade. O descanso passou a ser visto como preguiça. O erro, como fracasso. A pausa, como sinal de fraqueza. E o burnout que antes era uma excepção, tornou-se quase um rito de passagem. A romantização do cansaço está a empurrar talentos valiosos para o limite do esgotamento físico e emocional. Estamos a pagar o preço da produtividade a qualquer custo.

O que agrava ainda mais este cenário é o avanço exponencial da tecnologia e da inteligência artificial. À medida que os algoritmos assumem tarefas cada vez mais complexas, com uma velocidade e precisão que nos ultrapassam, muitos profissionais sentem-se pressionados a acompanhar o ritmo das máquinas. Mas essa comparação é injusta — e desumana, porque não fomos feitos para funcionar como sistemas operacionais. Sentimos, questionamos, precisamos de tempo… Temos limites!

O verdadeiro diferencial humano, neste novo contexto, não será a capacidade de competir com a IA em termos de eficiência. Será a capacidade de ser aquilo que nenhuma máquina consegue ser: sensível, empático, intuitivo, relacional. A inteligência artificial pode calcular, automatizar, prever, mas não consegue criar ligações autênticas, tomar decisões éticas complexas, ler entrelinhas emocionais ou reconhecer que, por vezes, a melhor decisão é parar.

Por isso, falar sobre humanização no trabalho deixou de ser um tema “bonito” para passar a ser uma urgência. Organizações que ignoraram esta realidade não perderão apenas talento, perderão humanidade. A liderança do futuro será aquela que souber equilibrar resultados com bem-estar. Que saiba escutar antes de exigir. Que compreenda que uma equipa produtiva é, antes de mais, uma equipa saudável.

Um exemplo inspirador disto é o de Whindersson Nunes. Mesmo no auge da sua visibilidade, reconheceu publicamente as suas fragilidades, as suas pausas e a necessidade de cuidar da saúde mental. Esse gesto, longe de o enfraquecer, reforçou a sua humanidade. E, hoje, ser humano é uma força. É um acto de coragem. É o verdadeiro futuro.

O profissional de amanhã não será aquele que trabalha vinte horas por dia, mas o que sabe quando parar. Que entrega com consistência, sem se anular no processo. Que compreende que sucesso sem saúde é fracasso disfarçado de reconhecimento.

Precisamos de reprogramar a ideia de performance. Torná-la mais real, mais honesta, mais humana, porque, no fim do dia, não seremos substituídos pelas máquinas se valorizarmos aquilo que só nós temos: a capacidade de sentir, de cuidar, de criar com propósito e de viver com consciência.

Humanizar o trabalho é o próximo grande salto da nossa evolução profissional. E talvez o mais difícil porque exige que deixemos de fingir que somos super-heróis. E que reconheçamos, com verdade, que estamos apenas a dar o nosso melhor. E que, muitas vezes, isso tem de ser suficiente.

Marcelino Caoio

Gestor de Tráfego Pago e Fundador da Viralize
Gestor de Projectos Digitais na Anda

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