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“Homens choram – a saúde mental nas empresas angolanas”

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Por Targeting
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Angola é um país repleto de tabus, desde os assuntos mais simples até aos mais complexos. A saúde mental é um deles, um tema pouco falado nas lides corporativas, especialmente no que diz respeito aos homens, pois, segundo os pseudo-especialistas, quem chora ou demonstra fraqueza é automaticamente visto como mimoso. Esquecemos que somos todos humanos, falíveis, cheios de defeitos e que choramos (sim, acredito que temos o direito de expressar as nossas emoções); mas não choramos à frente dos nossos amigos para não “borrar a postura”.

A reflexão que trago destaca uma questão que é, de facto, um desafio muito real em Angola e em muitos outros países: a falta de espaço para que os homens expressem emoções sem sentirem que estão a comprometer a sua masculinidade (identidade). A ideia de que o homem não pode mostrar fraquezas está enraizada culturalmente, e a pressão para esconder sentimentos vem de estigmas que desencorajam qualquer sinal de vulnerabilidade.

Há quem vá mais longe e diga que somos uma geração de mimosos que não tolera nem aceita um “não” como resposta. A minha opinião é que somos todos resultado das somas das experiências e circunstâncias da vida, umas boas e outras más. Como dizem os meus “amigos do Twitter” (desculpa, Elon, mas não vou chamar pelo nome actual): Tá tudo bem porque as ruas são frias.

Nas empresas angolanas, a falta de abertura para discussões sobre saúde mental é agravada pelo receio de que expressar emoções possa ser interpretado como um sinal de fragilidade, comprometendo a visão que os colegas e líderes têm de um profissional. O resultado disso é um ambiente corporativo onde muitos homens sofrem em silêncio, acumulando emoções que podem prejudicar tanto o bem-estar pessoal quanto o desempenho no trabalho.

Vamos directos ao ponto. Em Angola, e em muitos outros lugares, a saúde mental dos homens é um tema pesado, rodeado de preconceitos e, muitas vezes, silenciado. Desde cedo, somos bombardeados com frases como “homem não chora” e “homem que é homem aguenta calado”. Este tipo de pensamento enraizado não só impede que os homens reconheçam as suas próprias fragilidades, como também cria uma cultura de repressão emocional. Isto reflecte-se, sim, no ambiente corporativo, onde um homem que demonstra qualquer sinal de vulnerabilidade ou cansaço emocional é facilmente visto como fraco ou “mimoso”. Mas a verdade é que esses preconceitos estão a criar ambientes de trabalho tóxicos e a afectar o crescimento de todos.

A realidade dos homens no ambiente corporativo

Homens, tal como mulheres, têm dias maus, enfrentam lutas internas e, sim, também choram. Só que eles aprenderam a fazer isso escondidos: no WC da empresa, na casa da amante (risos), ou em casa (na primeira) quando estão sozinhos. No trabalho, têm que manter a pose, porque o medo de serem julgados ou de se tornarem motivo de piada é real. Essa pressão constante para “não dar bandeira” em público ou para parecer sempre “durão” é exaustiva e, aos poucos, prejudica tanto o bem-estar individual como a eficiência e motivação no trabalho.

A longo prazo, isto tem um custo. Muitos homens acabam por canalizar esses sentimentos de forma destrutiva, seja descontando em bebidas, em comportamentos impulsivos ou em relações pessoais. Tentam, muitas vezes, anestesiar-se ou acabam por explodir em momentos inesperados, o que afecta não só o ambiente de trabalho, mas também os relacionamentos fora dali.

Por que as empresas deveriam se importar?

É simples: colaboradores mentalmente esgotados e emocionalmente reprimidos têm um desempenho mau. Estes problemas acabam por resultar em quedas de produtividade, maior rotatividade de pessoal e, no fim das contas, um ambiente de trabalho tóxico. Empresas que acham que esse é um “problema pessoal” e que não têm responsabilidade nessa área estão enganadas. Colaboradores emocionalmente saudáveis são mais empenhados, mais produtivos e contribuem para uma cultura corporativa mais colaborativa e sustentável.

O que as empresas podem fazer para mudar este cenário?

Aqui estão algumas acções práticas que poderiam, de facto, fazer a diferença:

  1. Promover uma cultura de empatia e respeito pela vulnerabilidade
    Em vez de tratar qualquer sinal de vulnerabilidade como “fraqueza”, as empresas precisam de criar um ambiente onde demonstrar sentimentos seja visto como normal. Não se trata de incentivar dramas, mas sim de abrir espaço para que os homens possam dizer que estão cansados ou que precisam de ajuda sem temer pela imagem profissional. Empresas que incentivam uma comunicação aberta e respeitosa ganham colaboradores que confiam mais uns nos outros e na liderança.
  2. Implementar programas de saúde mental que realmente funcionem
    Muitos programas de saúde mental nas empresas são só de fachada, feitos para “cumprir tabela”. É necessário algo autêntico: sessões de coaching, mentoria ou até consultas com profissionais de saúde mental devem ser incentivadas e oferecidas sem julgamento. O anonimato e a confidencialidade devem ser garantidos para que o colaborador sinta confiança em procurar apoio.
  3. Investir em formação para gestores
    Os líderes têm um papel essencial neste processo. Formar gestores para entenderem sinais de esgotamento e comportamentos que indicam sofrimento mental é essencial. Além disso, eles precisam de aprender a ouvir de forma activa, sem minimizar ou ironizar as emoções dos colaboradores. Esse tipo de formação deve ir além da teoria, incluindo simulações e situações práticas para que os líderes aprendam a lidar com diferentes cenários emocionais.
  4. Criar canais de apoio emocional e comunidades de suporte
    Empresas poderiam criar canais, como grupos de discussão ou mentorias em grupo, onde os homens (e todos os colaboradores) possam partilhar experiências. Esses encontros devem ser construídos com o intuito de ser um espaço seguro, sem julgamento, onde os homens possam falar sobre as suas lutas diárias, os seus desafios emocionais e encontrar apoio nos colegas.

Este ponto também é mesmo só opinião porque em Angola pode criar mais problemas do que soluções. Todos sabemos o tipo de colegas que temos!

  1. Normalizar a conversa sobre saúde mental
    Promover campanhas internas onde figuras masculinas, incluindo gestores ou executivos, falem abertamente sobre saúde mental ajuda a quebrar o tabu. Quando esses homens, especialmente os que ocupam posições de liderança, falam sobre os seus próprios desafios emocionais, eles dão exemplo e criam uma cultura onde outros homens se sentem mais à vontade para fazer o mesmo.
  2. Flexibilizar regras para o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal
    Muitas vezes, o problema está na falta de flexibilidade e na pressão por produtividade constante. As empresas precisam de entender que os colaboradores não são máquinas. Ter horários mais flexíveis, considerar dias de descanso quando necessário e promover um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal são acções que evitam o esgotamento.

O grande desafio para as empresas angolanas é derrubar as barreiras de um estigma antigo e abrir o espaço para que todos, especialmente os homens, possam ser eles próprios sem medo de julgamento. No fim das contas, não se trata de tornar o ambiente de trabalho um lugar de desabafo emocional, mas sim de criar uma cultura onde todos, incluindo os homens, possam ser genuínos e humanos. Quanto mais as empresas investirem em bem-estar emocional, mais terão colaboradores motivados, criativos e comprometidos.

E sim, meus irmãos, chorem, façam terapias e cuidem-se!

Luís Joaquim

Especialista em Gestão e
Desenvolvimento Humano

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4 Comentários
  • Li isto e sinceramente faz meses que penso em deixar de trabalhar, não o faço PQ tenho dois filhos para sustentar e não encontrei ainda um outro mas estou a lutar para ter pelo menos duas motos no mercado, pq nao estou bem mentalmente, essa empresa me matou, matou a minha mente, o ambiente é muito tóxico para mim, eu so vou pq preciso do dinheiro no final do mês, tudo começa com o chefe e depois aos colegas.

  • Concordo plenamente com a posição apresentada neste artigo, pelo que, considero premente atenção e investimento nesta área. Conforme se diz, sofremos calados.

    Trabalhador motivado, produção garantida.

    Bem visto meu caro. Um abraço 🫂

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