O mercado das operadoras e distribuidoras de televisão por satélite em Angola é relativamente novo, com menos de 3 décadas. Em 1998 a plataforma DStv chegou ao mercado angolano com o objectivo singular de “dar aos angolanos maior e melhor conteúdo”.
Na posição de único player de mercado durante longos anos, a marca fez e continua a fazer parte do dia-a-dia das famílias angolanas, embora exista já um outro player que ofereça as mesmas soluções. “São 25 anos a dar entretenimento às famílias angolanas e a destacarmo-nos pela nossa vasta oferta de conteúdos que vão desde o desporto aos conteúdos infantis, telenovelas e uma gama de conteúdos relevantes para o consumidor”, diz Rui Conceição, Head Of Marketing da Multichoice Angola desde 2020.
Para ultrapassar a barreira da competitividade, a DStv Angola reinventa o seu negócio com melhorias na sua oferta, promovendo a versatilidade e fazendo uma forte aposta na produção de conteúdos feito por angolanos e para angolanos. A estratégia tem-se mostrado vencedora, já que, de acordo com Rui Conceição, a empresa sente que a aposta na produção de conteúdos locais “é uma das formas de reter e fidelizar ainda mais os clientes. Continuamos a ser vistos como a melhor plataforma de desporto em Angola, de longe, mas percebemos também que o conteúdo nacional retém muito mais o consumidor que se revê no modo como as pessoas daquela novela nacional falam e agem, por exemplo. O conteúdo nacional tem identidade e isso faz as pessoas seguirem”.
Chega à Multichoice após um longo período no sector das bebidas e grande consumo. As diferenças são consideráveis na forma como se trabalha a comunicação e marketing num segmento e noutro?
Sim, são muitas as diferenças. No grande consumo, bebidas e produtos de alta rotatividade, a comunicação é muito na base do impulso e daquilo que é a tendência do consumidor, que vai mudando, vai sendo diferente ao longo do tempo e as marcas e empresas ajustam-se a elas. O negócio em que a Multichoice está é mais de fidelização em que temos de garantir, por um lado, a versatilidade de conteúdos que agrade ao consumidor e, por outro, temos de garantir que o cliente esteja satisfeito, já que é um produto que vem para ficar na sua vida e que os padrões de qualidade precisam de estar a este nível de exigência, de formas a que o cliente se mantenha na plataforma a vida toda, se possível.
25 anos no mercado angolano, sendo que metade deste tempo enquanto player único na distribuição de televisão por satélite. Como é que está a vossa quota de mercado hoje?
Estamos a completar 25 da Multichoice e DStv em Angola, 25 anos a dar entretenimento às famílias angolanas e a nos destacarmos pela nossa vasta oferta de conteúdos que vão desde o desporto aos conteúdos infantis, telenovelas e uma gama de conteúdos relevantes para o consumidor, ao longo deste período em que estivemos durante muito tempo sozinhos e, sobretudo, agora.
Relativamente às quotas de mercado, não temos dados muito específicos e oficiais que possamos apresentar. No entanto, sabemos que não somos líderes de mercado no global, mas sabemos que estamos a fazer um trabalho árduo para materializar a conquista desta liderança. Já fomos líderes e estamos constantemente na liderança com a nossa oferta desportiva, mas naquilo que é a globalidade têm existido oscilações entre as operadoras e, não existindo estudo de quotas de mercado oficiais, não podemos dizer que somos os líderes. O que eu quero dizer é que de alguma forma sabemos que somos a segunda marca, estamos ali muito perto sempre a lutar com a outra marca para voltarmos a nos posicionar como líderes em tudo.
Estamos a fazer um trabalho árduo que passa por coisas que vamos abordar mais a frente, se possível, e que se assenta essencialmente na nossa estratégia de conteúdos diversificados e ajustados àquilo que o nosso consumidor quer em Angola. Posso dizer que estamos com uma óptima performance, especialmente nos últimos dois anos, estamos a crescer e estamos no caminho certo para conseguir alcançar os nossos objectivos.
Naturalmente, com a chegada da concorrência, vocês são “obrigados” a ser mais ousados na oferta e na forma como se posicionam?
Na verdade, este mercado é altamente desafiante. Tanto nós como a concorrência estamos constantemente a nos desafiar. Em muitas das vezes nos ajustamos àquilo que a concorrência faz e eles fazem o mesmo, ajustam-se diversas vezes ao que estamos a fazer. Mas esta é a lei do mercado a funcionar, e esta agressividade e ousadia são boas, estimulam o próprio mercado.
Com várias frentes de comunicação, desde o institucional, produtos, pacotes, programação… Como é que estrategicamente organizam e fazem o fluxo funcionar?
Temos sempre a comunicação dos pacotes por trás da nossa comunicação principal que pode e deve ser sempre baseada no conteúdo. O que faz o consumidor optar pela nossa plataforma é o conteúdo, isso é o que vendemos. Depois, mostramos ao consumidor em que pacote ou patamar de preço este conteúdo está inserido – tornar acessível a informação para quem está a ver. O que fazemos em muitos dos casos é a comunicação de um conteúdo específico que achamos ser essencial comunicar, mas sempre ajustado a realidade do pacote em que está inserido. Esta é nossa estratégia de comunicação de preço e conteúdo.
“Agora que mergulhámos mais a fundo na produção nacional e na sua capacidade, verificamos que existem muitos bons e vários produtores e produtoras com qualidade. Em 2022 lançámos a novela “O Rio”, que está a ser um sucesso até agora e já vai na segunda temporada. Em Janeiro deste ano lançámos outra novela, a “Mahinga”. Neste momento, de produção 100% feitas em Angola, temos duas novelas em exibição ao mesmo tempo, e temos também uma Sitcom, “Mussulando”, todas elas no Kwenda Magic.”
Como está organizada a equipa de formas a dar respostas às necessidades de comunicação, de marketing e até de promoção?
Temos dentro da equipa três grandes áreas: i) Área de Campanhas, responsável por comunicar todas as campanhas, desde as campanhas de aquisição de clientes, de pacotes ou até mesmo de conteúdos; temos a ii) Área do Digital, que cresceu muito, sobretudo na época de pandemia, e temos por fim a iii) Área de Conteúdos e PR, o conteúdo é o nosso produto e a relação com os parceiros que nos fornecem esse conteúdo é essencial para que haja este alinhamento entre aquilo que temos de conteúdo e aquilo que queremos que chegue ao consumidor, por isso temos esta área na equipa.
Quando fala de parceiros, está a falar dos canais…
Sim, essencialmente dos canais, mas também as produtoras.
E em relação a outros parceiros que vos ajudam a levar a mensagem para mais pessoas, como as agências, por exemplo. Qual o papel delas no vosso processo de comunicação?
O papel delas é sempre dinamizar aquilo que é a nossa comunicação, fazê-la chegar ao máximo de consumidores possível. Este é o nosso objectivo quando utilizamos estes parceiros, e hoje é quase impossível não os termos. É essencial termos estas parcerias bem sólidas para quando precisarmos comunicar atempadamente, de forma correcta, envolvendo todos os meios possíveis, para que a mensagem consiga chegar a mais pessoas.
Todo esse trabalho de comunicação tem obrigatoriamente de se reflectir nas vendas de novas subscrições, por exemplo?
Por um lado, sim, nós queremos continuar a crescer e assumimos isso, é nossa vontade. Queremos trazer novas contas à empresa, provocar adesões e aquisições de novos clientes via compra de novos descodificadores. Mas também queremos manter a nossa base que é muito importante, não é apenas um trabalho de conquista, é também um trabalho de retenção e fidelização pela nossa marca, ouvindo os nossos clientes e dando-lhes soluções o mais personalizadas possível. No nosso negócio pensamos sempre que a nossa base de clientes é muito importante e que é essencial mantê-la, não podemos apenas ir atrás de novos clientes e deixar para trás aqueles que já estão na nossa plataforma e que nós sabemos aquilo o que eles querem.
A expansão e cobertura a nível nacional está conseguida ou perto de acontecer?
Está conseguida. Neste momento já cobrimos as 18 províncias do país a nível de sinal e imagem, e também a nível da nossa rede de agentes que já está espalhada pelo país, e temos 24 lojas próprias em 16 províncias.
A produção de conteúdos locais é uma das vossas bandeiras. De que formas pretendem melhorar esta aposta?
Uma coisa que descobrimos a curto/médio prazo é que existem muitos bons produtores em Angola. É algo que já víamos porque sempre trabalhámos com eles dentro daquilo que é o marketing, em campanhas e etc. Mas agora que mergulhámos mais a fundo na produção nacional e na sua capacidade, verificámos que existem muitos bons e vários produtores e produtoras com qualidade. Em 2022 lançámos a novela “O Rio”, que felizmente está a ser um sucesso até agora e já vai na segunda temporada. Em Janeiro deste ano lançámos outra novela, a “Mahinga”. Neste momento, de produção 100% feitas em Angola, temos duas novelas em exibição ao mesmo tempo, e temos também um Sitcom, “Mussulando”, todas elas no Kwenda Magic. É o que temos neste momento de produção nacional, mas já tivemos outros conteúdos como a primeira temporada de “Njila” e brevemente anunciaremos a segunda temporada. Estamos a desenvolver esforços para produzir mais conteúdos que venham enriquecer esta grelha. E ainda este ano teremos mais novidades.
Respondendo directamente à pergunta, sim, estamos completamente focados na produção nacional. É um dos nossos focos estratégicos, que veio para ficar e que faz todo o sentido. Foi algo que identificamos dentro das necessidades dos nossos consumidores que queriam mais produção nacional e ela não existia. A partir deste momento entendemos que, por um lado, era uma oportunidade de negócio, mas por outro, era algo que tínhamos quase como uma obrigação de apresentar ao mercado. Mas a nossa capacidade de investimento vai sempre depender da situação económica, que neste momento é muito desafiante. Por isso, talvez precisemos de rever esta estratégia para salvaguardarmos sempre a sustentabilidade do nosso negócio.
Neste momento temos pela primeira vez três produções seleccionadas e nomeadas para os Africa Magic Viewers’ Choice Awards, em três categorias diferentes: A série Njila, O Mussulando como sitcom e Mahinga como novela. Uma premiação que é transmitida para mais de 50 países em África e que para nós é um motivo de muito orgulho como marca e como país, porque todos vão ver lá bem escrito “Mahinga from Angola”.
Vai servir de barómetro para conseguirem medir aquilo que tem sido esse trabalho de investir na produção de conteúdo local?
Exactamente. Serve para mostrar que não produzimos só em quantidade, mas em qualidade também, e isso é muito importante, porque o nosso consumidor está mais exigente do que nunca. Nós temos a capacidade de fazer bem, de fazer produção com qualidade cá, e é isso que também queremos demonstrar: que podemos produzir com muita qualidade localmente. Estas premiações e nomeações mostram exactamente isso, que o júri que avalia e escolhe os conteúdos nos escolhe porque vê qualidade no nosso trabalho. O nosso foco na qualidade materializa-se também na nossa iniciativa de responsabilidade social, através do MultiChoice Talent Factory que tem como objectivo formar e qualificar profissionais da indústria criativa para exportarem as estórias africanas além continente.
Como é feita a selecção das produtoras de conteúdos que trabalham convosco?
Temos uma plataforma onde as produtoras têm de inscrever e propor um conteúdo. Além disso, temos uma via aberta, tanto como DStv Angola ou o Kwenda Magic, onde os produtores que têm conteúdos interessantes apresentam-nos os mesmos, avaliamos, e se estiver dentro da nossa estratégia definida de conteúdos prioritários e interessantes para o nosso consumidor, e se tivermos enquadramento financeiro, poderemos avançar com a produção. De realçar que os projectos de conteúdos nacionais que lançamos são propostas que chegaram via agentes locais, tirando a novela “O Rio” que é um guião originalmente nosso.
A aposta na produção nacional passa necessariamente por incentivos, sobretudo financeiros. Qual foi o investimento nos últimos anos e qual a previsão a médio/longo prazo?
O maior incentivo de todos foi termos dado oportunidades a produtores nacionais de realmente fazerem aquilo que eles gostam e precisam de fazer. Estamos com uma grande dinâmica de produção de conteúdo local e tentamos disponibilizar esta dinâmica aos produtores. Somos frequentemente abordados por produtoras angolanas com propostas de conteúdos que eles e nós achamos que, apesar de arrojadas, têm a qualidade e a relevância necessária. Obviamente não conseguimos abraçar todas, mas chegam-nos ideias muito boas. Deste ponto de vista, os produtores de conteúdos nacionais percebem que queremos realmente dar-lhes oportunidades.
Em termos de investimentos, se assim os podemos chamar, criámos muitos postos de trabalho, criámos muitas oportunidades no mercado e criámos muito material e conteúdo relevante para o consumidor angolano em geral. Trouxemos aqui uma dinâmica no mercado focada em voltar a apostar na produção local que estava completamente parada, sobretudo durante a pandemia.
Falou de projectos específicos como as novelas “O Rio” e “Njila”, para além do Kwenda Magic que é um canal vosso. Não se consegue olhar para os valores alocados nestes projectos e a partir daí fazer uma estimativa de investimento na produção do conteúdo local?
Não se consegue dizer porque as novelas, por exemplo, são por temporadas. É um investimento constante. Numa temporada pode-se investir mais e na outra menos, depende do número de episódios e depende também dos serviços que depois vão estar associados à produção, como a maquiagem, o guarda-roupas e outros serviços que não possibilitam o apuramento facilitado dos valores. Poderemos eventualmente e quando os projectos estiverem fechados dizer que investimos X neste projecto e Y naquele, porque o que acontece é que estas produções ao mesmo tempo que estão a ser gravadas também estão a ser exibidas. Não estamos a gravar para apresentar mais tarde, neste momento estamos a gravar, estamos a transmitir e há muita coisa que vai variando, inclusive os custos.
“Sabemos que não somos líderes de mercado no global, mas sabemos que estamos a fazer um trabalho árduo para materializar a conquista desta liderança. Já fomos líderes e estamos constantemente na liderança com a nossa oferta desportiva, mas naquilo que é a globalidade têm existido oscilações entre as operadoras e, não existindo estudo de quotas de mercado oficiais, não podemos dizer que somos os líderes.”
Ainda dentro do assunto versatilidade dos conteúdos vs fidelização dos clientes, qual o tipo de conteúdo que melhor vos ajuda a fidelizar os clientes?
Sabemos a força que o desporto tem. Temos a maior oferta desportiva do mundo, não há outra plataforma de transmissão de conteúdos que possua tanta oferta desportiva como nós possuímos. Dizemos isso com orgulho porque é verdade. Se olharmos às grandes transmissoras internacionais, elas não têm a quantidade de conteúdos que temos, por exemplo. Essa versatilidade na oferta torna-nos muito relevantes no desporto. Sim, temos os nossos consumidores de desporto identificados e eles são claramente fidelizados por esta oferta, não temos dúvidas disso. Neste momento, o que também identificamos como conteúdos que fidelizam são as novelas e os conteúdos infantis, cuja oferta na DStv é imbatível. Temos a maior diversidade de conteúdo infantil do mercado.
Dito isto, sim, o desporto é muito relevante para nós, é uma aposta que vai continuar a ser forte e com tendência até de crescer, mas estamos também a diversificar e a investir em outros conteúdos, como as novelas e os conteúdos infantis que são também estratégicos para nós, como formas de fidelizar clientes.
No campo da inovação, que novos produtos/serviços a marca pensa trazer para Angola, uma vez que o vosso principal produto, DStv, está consolidado?
Em termos de inovação, neste ano em que completamos 25 anos, traremos novidades no campo tecnológico. Temos já disponível o nosso serviço de streaming, o DStv Now, que é um serviço incrível e que melhorou muito no último ano desde o lançamento. Qualquer cliente que tenha uma conta activa da DStv pode ver, através do DStv Now, o mesmo conteúdo do seu pacote subscrito, no seu smartphone, computador ou tablet, em qualquer altura do dia e em qualquer lugar, basta que tenha uma ligação fiável à internet. É um serviço altamente diferenciador, inovador e único no mercado. Vamos continuar a apostar neste campo da disponibilização dos conteúdos via digital. Temos também a nossa App que é muito versátil, dinâmica e que tem várias possibilidades dentro dela, para não falar da interligação com outras plataformas digitais.
Estão realmente a acompanhar aquilo que é a tendência digital e estão a fazer com que os vossos produtos e ofertas caminhem para esta direcção…
Sim, o crescimento do digital não nos assusta, pelo contrário, estamos muito atentos. Percebemos que Angola ainda não tem uma penetração na utilização de internet como todos sonhamos, infelizmente ainda é baixa comparando com alguns países de África, mas estamos atentos porque precisamos ter sim um serviço forte de televisão e esta é a forma principal de entrarmos no lar das pessoas, mas, por outro lado, não estamos alheios ao crescimento do streaming e temos de acompanhar esta tendência. Daí o nosso serviço DStv Now funcionar perfeitamente e estar acessível à toda gente que tenha o acesso a internet.
Que novidades estão contempladas em termos de marcas para assinalar os 25 anos de operações em Angola? Algum rebranding, novo posicionamento?
Vamos lançar em breve uma campanha alusiva aos 25 anos da marca em Angola. O nosso rebranding como DSTv Angola é recente e não está para já previsto um reajuste. Vamos sim dar ênfase aos 25 anos da marca no país e isso sim é muito relevante para nós, é uma vitória que conseguimos e vamos ter outras várias novidades que serão anunciadas brevemente. Não posso dizer já quais serão estas novidades, mas brevemente vocês terão acesso a essa informação.
Qual é a vossa posição no que diz respeito ao aumento de preços no vosso segmento?
Percebemos que os consumidores, tal como as empresas estão a sofrer uma enorme pressão com a conjuntura actual. A nossa última actualização de preços foi em 2020, há três anos, entretanto, aconteceram diversas coisas no mercado: investimos muito mais, com o lançamento de um novo canal específico para o nosso mercado, tivemos de continuar a pagar os conteúdos que vêm de fora em moeda estrangeira e houve a desvalorização da moeda nacional. Estes factores fizeram com que os custos do negócio aumentassem, e acaba por ser um pouco estrangulador não conseguirmos acompanhar essa tendência. Sem contar que desde o ano passado temos investido fortemente em conteúdos de produção nacional e mais custos estamos a ter.
Como é que este não aumento do preço penaliza tanto a vós como a concorrência e que acções estão a ser tomadas do lado das empresas?
Obviamente que estamos a reajustar a nossa operação, mantendo o nosso compromisso em entregar um serviço de qualidade mas esta situação impacta em muito a nossa operação, que tem muitas despesas estruturais adjacentes ao dólar.
Uma destas medidas passa por revermos os nossos investimentos em produção de conteúdo local, o que terá impacto na vida das mais de 3.500 pessoas que trabalham directa ou indirectamente nas produções para o Kwenda Magic.
O tema pirataria está naturalmente ligado à questão do aumento do preço?
Sim, e a pirataria tem crescido bastante em Angola com os chamados agentes ou serviços comunitários de televisão e internet que, basicamente, vão à busca dos nossos conteúdos, difundem e comercializam sem autorização, a um preço mais baixo e, naturalmente, com péssima qualidade. É uma prática que prejudica o negócio e, à partida, na medida que esta pirataria cresce, vai prejudicando cada vez mais a nós e aos nossos concorrentes. É um flagelo que tem de ser combatido, que esperamos que hajam medidas concretas e que este combate seja realmente levado a cabo. Temos bons exemplos em África de países que combateram a pirataria, como os casos do Quénia e Etiópia, com acções regulares e desmantelamento de redes de pirataria.
Há mais ou menos um ano foi criado uma task force por parte das empresas para o combate a pirataria. Que resultados obtiveram?
Todos os indícios de pirataria que encontramos no mercado, reportamos imediatamente às entidades competentes. A DStv Angola é um dos intervenientes na iniciativa “Parceiros Contra a Pirataria”, uma iniciativa coordenada pelo SENADIAC com o objectivo a consciencializar acerca do fenómeno e criminalizar estas prácticas. Ao longo deste ano têm sido realizadas várias actividades e vamos continuar a trabalhar para que este fenómeno tão prejudicial à nossa economia e segurança social possa ser combatida.
Há todo um trabalho que envolve a educação não apenas dos consumidores mas também dos artistas, detentores de direitos de propriedade intelectual, jornalistas, sociedades de gestão colectiva, sobre os direitos e deveres bem como as consequências mais nefastas destas redes que passam pelo financiamento a redes terroristas e tráfico de órgãos, sem contar com a perda de confiança dos investidores internacionais em mercados com estes problemas.
Por outro lado, há algo ainda mais grave a acontecer, que são pessoas que fazem a venda destes serviços piratas e que também não sabem que estão a incorrer numa ilegalidade. Se abrirmos a internet e procurarmos por vendas de IPTVs da vida, veremos que as pessoas colocam lá os serviços à venda com os seus endereços e contactos, o que demonstra um desconhecimento da ilegalidade que estão a cometer, porque se soubessem, não acredito que se expusessem deste jeito.
Não acha que o surgimento das chamadas televisões comunitárias tem muito a ver com a ideia que se tem de que o serviço de televisão por satélite em Angola não é barato ou acessível a todos?
Nós temos dos serviços de televisão por satélite mais acessíveis de África. Quando fazemos a comparação com outros países, ao câmbio do dólar que é a moeda de referência, vemos que os preços que praticamos em Angola são realmente os mais baixos e, desde 2020 quando foi feito o nosso último ajuste de preço, vemos que a distância com os outros países só aumenta, já que os outros países fazem por norma actualização de preços anuais.
Percebo que as pessoas considerem caros os pacotes de televisão, as pessoas têm de tomar decisões e definir prioridades, sobretudo quando toca no orçamento familiar. Por isso mesmo é que a DStv Angola tem vários pacotes com diferentes preços que se adequam ao rendimento de cada uma das famílias que queiram adquirir os nossos serviços, e temos uma oferta bem alargada para que isto possa acontecer.
Em que consiste o serviço DStv For Business?
O DStv For Business é um serviço que lançámos direccionado às empresas e temos dentro dele três linhas de negócios: o Stay é focado para hotéis, pousadas, resorts e negócios de alojamento para pessoas que queiram passar uma temporada ou descansar; o Work é para escritórios como o nosso, por exemplo, farmácias…; e o Play é para negócios de restauração, os restaurantes, bares e etc. Todos eles têm pacotes específicos, pensados à medida e de acordo às necessidades de quem vai consumir.
No princípio sentimos que as pessoas questionavam se era necessário ter televisão no escritório, se isso não afectaria a produtividade, por causa das novelas, mas o pacote para escritório não tem de necessariamente ter este conteúdo, pode ter as notícias e outros canais que ajustem no dia-a-dia. Na linha Play, por exemplo, o foco é nos canais desportivos e nesta linha temos crescido bastante neste último ano.
As vantagens do DStv For Bussiness são desde logo a possibilidade de o negócio usufruir de um serviço altamente diferenciado, ter um acompanhamento personalizado da conta, pacotes e canais personalizados às necessidades que o consumidor que frequenta estes espaços quer ver e quer encontrar, além de ter também uma assistência técnica garantida e personalizada.
Foi recentemente anunciado um novo director da Multichoice/DStv para o mercado angolano. Interna e externamente, o que a empresa espera da liderança de Marcus Valdez?
Para já, tenho de dizer que é um grande orgulho termos um novo director geral angolano. Penso que devemos também celebrar o facto de termos o primeiro director angolano, é um motivo de orgulho para todos nós. O Marcus que é um homem da casa, com grande conhecimento do negócio, está cá há vários anos, não é novato no que está e vai fazer e que tem uma equipa bem preparada por trás e é uma prova do investimento da empresa no desenvolvimento de talentos. Depois, dizer que o anterior director, Glauco Ferreira, deixa o posto após um trabalho excepcionalmente bem feito e, por essa razão, vai assumir uma nova posição no grupo, numa outra hierarquia, que é tomar conta do negócio na região do norte de África, o que também mostra o valor que Angola aporta para o negócio.
A nível da direcção estamos juntos e unidos para que a gestão do Marcus seja um sucesso e estamos com uma visão estratégica muito bem alinhada, que nos vai trazer bons resultados, sem dúvidas nenhuma. Aliás, o Marcus é uma pessoa muito aguerrida, lutadora e resiliente, desde sempre e tem as características que são essenciais para comandar um barco com esta dimensão. Portanto, penso que esta panóplia de ingredientes é suficiente para termos aqui um cozinhado incrível.
Formado em Gestão pela Universidade do Algarve e após um longo percurso no segmento das bebidas entre Portugal e Angola, onde passou pelas áreas de vendas e marketing da Central de Cervejas (Grupo Heineken), Bacardi e Martini, Refriango e Pernod Ricard, Rui Conceição assumiu em 2020 o cargo de Director de Marketing da Multichoice Angola.
Redacção: ola@targeting.ao
Fotografias: Flávio Almeida