Foi durante um encontro da igreja que o nosso entrevistado tirou a sua primeira fotografia. Neste instante, descobriu e ficou fascinado pela arte de eternizar momentos e nunca mais parou. A frase “poeta que pinta através do clique” assenta-lhe na perfeição, pois, carrega a essência artística nos seus trabalhos visuais.
Joaquim Chongolola Catito, também conhecido por Kim Praise, começou a sua carreira por volta de 2013/2014, em Benguela, terra que lhe viu nascer e crescer. Mas deixou a sua terra natal em 2017, e fez de lar a capital Luanda para dar seguimento a sua carreira, inicialmente como fotógrafo e mais tarde adicionando a componente de vídeo.
Autodidacta e muito reservado, mas a vontade de mostrar ao mundo como vê as coisas, fez do Kim um profissional que capta, através da sua lente, a essência de lugares e as expressões das pessoas. As cores quentes e porções de artes notáveis nos seus registos fotográficos, tornam-lhe num poeta que pinta o seu país e o seu povo através do clique.
“O WeTransfer foi uma grande surpresa para mim, foi um dos grandes acontecimentos de 2022. Sou o primeiro fotógrafo e artista angolano que tem a sua obra nesta grandiosa plataforma, e espero que eu tenha aberto a porta para que muitos outros fotógrafos, artistas e designers consigam entrar nesses lugares.”
Hoje, além de fotógrafo, é também videomaker, tornando-se num dos profissionais mais requisitado da actualidade, no panorama do audiovisual nacional.
Quando saiu de Benguela para Luanda foi com este propósito? Na altura já era fotógrafo, certo?
Sim, quando cheguei em Luanda já era fotógrafo. Comecei a fotografar em Benguela, por volta de 2013 ou 2014, e vim para Luanda em 2017 com a proposta de uma empresa para trabalhar com fotografia. Para ser sincero, nunca quis vir para Luanda porque achava que a capital era – e continua a ser – essa coisa frenética. Em Benguela tudo era muito mais calmo, tinha os meus amigos, a minha família, tudo estava lá. Foi um desafio para mim vir para uma cidade nova e ter de começar do zero sem conhecer muita gente.
Como é que dá entrada ao mundo da fotografia?
Sinceramente nunca sonhei em ser fotógrafo, foi algo que aconteceu naturalmente e nunca mais larguei. Era um simples músico na igreja. Foi realizado um congresso dos jovens em que uma amiga da igreja e amiga estaria a fotografar, num dia em que por acaso, eu não fui escalado para tocar e a irmã/fotógrafa passou mal. Me disponibilizei de imediato para fotografar. Lá fui, peguei a câmera, fotografei e soltei um: “Uau, o que é isso?”
Quando é que sentiu que a coisa estava a ficar séria e que era esse o caminho que queria trilhar?
Acho que foi em 2016, depois de 2 anos. Comecei a mergulhar de cabeça na coisa porque tinha começado a me sentir bem com aquilo que estava a fazer, e pensei: pronto, vou trabalhar com isso. Vou terminar os meus estudos e, depois de terminar, vou continuar a fazer isso. Sou formado em Contabilidade, mas nunca consegui exercer.
Adicionou o vídeo à fotografia, tornando-se num profissional de audiovisual completo e num dos mais requisitados do mercado. Como define o estilo actual do seu trabalho?
Na verdade, o que tento fazer é captar aquilo que vejo, aquilo que acredito que visualmente pode ser belo para outras pessoas e que também possa impactar. Não fotografo, nem filmo apenas. Procuro inspirar vidas e fazer coisas que possam tocar na alma das pessoas e que façam com que estas pessoas reflictam e sintam-se participantes daquilo que estou a fazer. Na verdade, ainda estou a me descobrir, mas acho que uma das coisas que tento fazer é ter essa identidade visual em que as pessoas consigam associar o meu trabalho à minha pessoa. Algumas vezes por causa dos planos, ou por causa das cores, noutras vezes por causa dos elementos ou pela exaltação da pele negra. São muito desses factores que influenciam o meu estilo actual de trabalho.
Nota-se um pouco de arte e poesia naquilo que faz. Já tinha essa veia artística ou foi descobrindo ao longo do tempo?
Digo sempre que todos os talentos que não deram aos meus irmãos, deram a mim. Tenho muitos talentos e sempre gostei muito de arte em si. Gosto de poesia, gosto de escrever e já gostei muito de ler também, da literatura em si. São coisas que acho que complementam-se. Às vezes uma imagem pode falar muito, mas se tu colocas uma legenda que realça ainda mais aquela imagem, pode torná-la mais poderosa e grandiosa. Então, é isso, gosto de arte e tento sempre não fazer o meu trabalho só por fazer. Quero que as pessoas consigam entender do tipo: “ele está a tentar passar uma mensagem para nós.”
O seu trabalho e as suas artes ganharam destaque no WeTransfer. Como chegou até esta grande plataforma criativa?
O WeTransfer foi uma grande surpresa para mim, foi um dos grandes acontecimentos de 2022. Sou o primeiro fotógrafo e artista angolano que tem a sua obra nesta grandiosa plataforma, e espero que eu tenha aberto a porta para que muitos outros fotógrafos, artistas e designers consigam entrar nesses lugares. Foi algo super simples, eles entraram em contacto comigo no Instagram, depois tivemos alguns meetings, trocas de e-mails e resultou no que foi. Para mim foi algo magnifico, particularmente para a minha carreira internacional, porque o meu trabalho acabou por estar mais exposto internacionalmente, e gratificante porque eu consegui mostrar um pouquinho daquilo que é Angola.
A entrada das suas artes WeTransfer abriu-lhe outras portas para trabalhos a nível internacional?
Abriu sim portas internacionais, uma delas foi uma exposição que aconteceu em Novembro último, em Londres, onde tive as minhas obras expostas. Se calhar agora eu não consigo ter a percepção daquilo que foi aberto, mas num futuro próximo vou conseguir usufruir mais ainda daquilo que foi a minha exposição no WeTransfer.
Temos visto o Kim a trabalhar de forma autónoma. Pretende continuar neste registo ou tem algum projecto que envolva uma equipa de trabalho?
Actualmente pertenço a uma empresa, a Osãi Agency Creative, que é uma produtora de áudio-visual, em que prestamos muitos serviços em eventos variados. Como o meu nome é uma marca, nas redes sociais vendo mais ele e tento fazer sempre com o que essa marca seja mais elevada possível. Se calhar, deve ser por isso que muitos acham que eu trabalho apenas de forma autónoma, mas não é isso. Faço sim muitos trabalhos sozinho, mas também pertenço a uma empresa.
Recentemente fez parte do corpo de jurados do FestiPub. Como foi a sua participação nesse evento?
Recebi o convite de forma normal. Para mim foi um prazer poder estar naquele meio de pessoas muito talentosas e experientes e fazer parte da equipa de jurados. Foi muito fixe trabalhar com eles.
Sentiu que as suas visões e apreciações foram realmente levadas em conta nas escolhas dos vencedores das categorias de fotografia e vídeos?
Sim, penso que sim, todas as opiniões foram levadas em conta. Particularmente gosto de coisas “bwé” justas, e acho que foi justo. As pessoas que votaram têm conhecimento de causa, então penso que foi uma boa e justa premiação.
Tem feito alguns trabalhos de audiovisual para empresas e produtos, ou este é um caminho que ainda não tenciona explorar tanto?
Não, já tenho feito fashiom films e apresentação de espaço (empresas). Mesmo com a agência em que pertenço, temos feito muito esse tipo de trabalho, só não posto. Mas sim, já faço trabalhos de áudio-visual para empresas e produtos.
“Consideraria como ápice da minha carreira, o reconhecimento internacional, chegar num ponto em que as pessoas consigam associar o meu trabalho ao meu nome, conseguir trabalhar com pessoas de outros lugares, como Nigéria, Gana e África do Sul, por exemplo. Ser conhecido internacionalmente pelo meu trabalho, seria o ápice da minha carreira.”
Acha que temos uma indústria de audiovisual pronta para responder as necessidades de demanda do mercado angolano?
Não, não temos e estamos muito longe disso. Não temos estruturas nem mercado. As micro e médias empresas solicitam muitos trabalhos do pessoal daqui de Angola, mas as grandes empresas solicitam trabalhos do estrangeiro. Há muitos factores que influenciam essas empresas a solicitarem trabalhos de fora, mas não vou aqui entrar nesse “babulo”.
Quais são os seus grandes objectivos profissionais? O que consideraria como ápice da sua carreira como fotógrafo e videomaker?
São muitos os meus objectivos profissionais, se calhar crescer mais, ser reconhecido internacionalmente (meu trabalho, minha marca e meu nome) e continuar a influenciar e impactar a vida das pessoas, esses são alguns dos objectivos da minha carreira. Consideraria como ápice da minha carreira, o reconhecimento internacional, chegar num ponto em que as pessoas consigam associar o meu trabalho ao meu nome, conseguir trabalhar com pessoas de outros lugares, como Nigéria, Gana e África do Sul, por exemplo. Ser conhecido internacionalmente pelo meu trabalho, seria o ápice da minha carreira.
Quando saiu de Benguela para Luanda, quando percebeu que fotografia era realmente o que queria fazer para o resto da vida, alguma vez imaginou-se como está hoje?
Não, simplesmente só vim e foi tudo indo acontecendo. Eu nunca quis ser conhecido ou famoso, até agora não quero, mas sei que vou ser, mas não é algo que eu busco ou procuro no dia a dia. Sempre fui curioso, sempre muito dado à arte, mas nunca quis ser famoso. Desde que comecei a fotografar, sempre soube que ia trabalhar com isso, mas a coisa que eu mais queria era ser feliz, e eu era e sou feliz com o que faço hoje.
Acompanhe os trabalhos de Kim Praise AQUI.
Redacção: ola@targeting.ao
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Simplesmente magnífico, eu sou também vídeo maker e é gratificante ver angolanos darem tudo pela arte
e com cede de elevar a arte angolana além
força Kim