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E se o mercado de trabalho fosse como o mercado de futebol?

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Imagem: Freepik

Como um bom apaixonado por desporto em geral e futebol em particular, é muito normal ficar expectante nos meses de Janeiro, Julho e Agosto de cada ano, devido às movimentações do mercado de transferências de inverno e de verão, respectivamente. O que me leva a imaginar o seguinte: Como seria se os profissionais convencionais fossem como jogadores de futebol?

 

Se o mercado de trabalho fosse estruturado mais directamente com base no mercado de futebol, algumas características importantes seriam diferentes em comparação com o sistema actual. Aqui estão algumas possíveis mudanças e vantagens:

 

Transferências de funcionários: assim como jogadores de futebol são transferidos entre clubes, os profissionais poderiam ser transferidos entre empresas. Isso poderia ocorrer devido a negociações entre as empresas, mudanças na carreira do profissional ou por meio de acordos contratuais. E tal como acontece no futebol, os profissionais seriam obrigados a ter uma figura representativa neste tipo de negociações.

 

Um sistema de transferências facilitaria a mobilidade dos profissionais entre empresas, permitindo que eles explorassem diferentes ambientes de trabalho e oportunidades de carreira.

 

Agentes de carreira: assim como os jogadores de futebol têm agentes especializados em negociações de contratos, os profissionais poderiam contar com agências de carreira especializadas para ajudá-los a encontrar as melhores oportunidades. Esses agentes seriam responsáveis por garantir as melhores condições de trabalho, salários e benefícios para os seus clientes (os trabalhadores). Os agentes teriam também a capacidade de influenciar profissionais e empresas nos quesitos das negociações e contratações respectivamente.

 

Janelas de transferência: com janelas de transferência e leilões de talentos, o mercado de trabalho poderia tornar-se mais transparente. Os profissionais teriam uma compreensão mais clara das oportunidades disponíveis e poderiam tomar decisões mais informadas sobre suas carreiras.

 

Obrigaria a existência de períodos específicos durante os quais as empresas poderiam realizar contratações e transferências de funcionários. Essas “janelas de transferência” poderiam ocorrer em momentos específicos do ano, proporcionando um senso de urgência e planeamento para empresas e profissionais.

 

Leilões ou Draft de talentos: em vez de entrevistas e processos selectivos tradicionais, as empresas poderiam realizar leilões para contratar talentos. As empresas interessadas fariam ofertas competitivas pelos profissionais, e os profissionais escolheriam a melhor proposta. Este ponto vai muito à semelhança do que acontece, por exemplo, na NBA – a Liga Profissional de Basquetebol dos Estados Unidos da América, onde existe anualmente um Draft em que as melhores equipas no ano transato escolhem uma quantidade de talentos recém formados nas universidades americanas para integrar aos seus quadros.

 

As empresas buscariam constantemente melhorar as suas ofertas de trabalho para atrair os melhores talentos, promovendo um ambiente onde o desenvolvimento profissional e as condições de trabalho são priorizados. Poderiam também competir não apenas por talentos estabelecidos, mas também por talentos promissores. Isso poderia estimular a inovação e a descoberta de novos líderes e especialistas.

 

Celebração de Contratos e Cláusulas de rescisão: os contratos na sua maioria passariam a ser celebrados por Tempo Determinado a Termo Certo, indicando sempre a data da sua caducidade. Assim como os contratos de jogadores de futebol que frequentemente incluem cláusulas de rescisão, os contratos de trabalho poderiam ter termos semelhantes. Isso permitiria que profissionais e empresas encerrassem o contrato antes do término, mediante o pagamento de uma quantia acordada.

 

Ligas profissionais: a introdução de uma estrutura de liga profissional poderia criar uma competição mais saudável entre empresas, incentivando a busca constante por talentos e a melhoria nas condições de trabalho. A competição intensa entre empresas por talentos poderia resultar em melhores pacotes de benefícios, salários mais atrativos e condições de trabalho mais favoráveis para os profissionais.

 

Poderiam existir ligas profissionais para diferentes sectores, onde as empresas competiriam entre si não apenas nos seus produtos e serviços, mas também na aquisição dos melhores talentos. No campo empresarial seria muito interessante a implementação das denominadas “ligas profissionais” sabendo que existem grandes, médias, pequenas e micro-empresas que são fruto das suas capacidades produtivas e níveis de tributação fiscal.

 

Marca Pessoal: assim como os jogadores de futebol muitas vezes têm acordos de patrocínio pessoal tornando-se conhecidos, os profissionais poderiam buscar acordos semelhantes para impulsionar as suas marcas pessoais. O tão propalado marketing pessoal seria uma forma de renda extra para os profissionais podendo ganhar maior visibilidade nas suas áreas de actuação, o que poderia abrir portas para oportunidades globais.

 

Embora essas vantagens possam parecer atraentes, é importante lembrar que o mercado de trabalho é complexo, e uma abordagem tão directa do modelo de futebol, também apresentaria desafios e considerações éticas. O equilíbrio entre competição saudável e estabilidade no emprego, bem como a igualdade de oportunidades, precisariam ser cuidadosamente considerados para evitar potenciais desigualdades e problemas sociais.

 

Com isso, deverão ser consideradas também várias desvantagens e desafios a considerar:

 

Desigualdades Salariais: um sistema de leilões de talentos e competição intensa poderia levar a disparidades salariais significativas entre profissionais, especialmente se houver uma alta demanda por determinadas habilidades.

 

Falta de Estabilidade: a mobilidade excessiva poderia resultar em falta de estabilidade no emprego, o que pode ser prejudicial para a segurança financeira e o bem-estar emocional dos profissionais.

 

Exclusão de Talentos Emergentes: empresas com recursos limitados poderiam ter dificuldades para competir por talentos promissores em leilões, o que permitiria excluir profissionais talentosos que não estão em posições financeiras tão vantajosas.

 

Ênfase Excessiva na Experiência Precedente: o modelo de transferências frequentemente enfatiza a experiência anterior dos jogadores. Isso poderia resultar numa preferência excessiva por profissionais com históricos estabelecidos, prejudicando a entrada de novos talentos no mercado de trabalho.

 

Falta de Continuidade nas Empresas: a constante movimentação de profissionais entre empresas poderia dificultar a formação de equipas coesas e a construção de uma cultura organizacional sólida.

 

Possíveis Práticas Anti-competitivas: a competição acirrada entre empresas por talentos poderia levar a práticas anti-competitivas, como conluios para fixar salários ou limitar a mobilidade dos profissionais.

 

Pressão Excessiva sobre Profissionais: o sistema de transferências e a constante competição poderiam colocar uma pressão excessiva sobre os profissionais para se manterem competitivos, potencialmente prejudicando o equilíbrio entre trabalho e a vida pessoal.

 

Falta de Investimento em Desenvolvimento Interno: empresas poderiam focar excessivamente na aquisição de talentos externos, negligenciando o investimento no desenvolvimento interno de habilidades e na promoção de funcionários existentes.

 

Falta de Diversidade: a competição intensa poderia favorecer profissionais com redes de contactos mais extensas e experiências pregressas mais reconhecíveis, o que poderia contribuir para a falta de diversidade nas contratações.

 

Perda de Fidelidade e Engajamento: a constante movimentação de profissionais entre empresas poderia levar a uma perda de fidelidade e engajamento, pois os profissionais poderiam se tornar menos focados nas organizações para as quais trabalham.

 

É importante considerar essas vantagens e desvantagens ao explorar modelos alternativos para o mercado de trabalho e buscar abordagens que equilibrem a competitividade com a estabilidade, equidade e desenvolvimento sustentável.

 

Um dos requisitos principais para efectivação destes processos, seriam, sem dúvidas, o surgimento de legislação especifica para regular tais actividades, e que seria necessária a definição de um órgão novo ou já existente para arbitrar tais processos.

 

Um dos ganhos, sem sombra de dúvidas, seria a valorização dos quadros, uma vez que estaríamos presente a um mercado muito mais agressivo do que temos actualmente, em que só se destacariam quem realmente faz a diferença, e, nesta senda, os funcionários não seriam vistos como funcionários apenas, mas como activos importantes na organização porque, para além de alcançarem objectivos, poderiam gerar renda extra em caso de transferências.

 

As empresas de pequeno porte seriam as com mais pendor para formação e inclinação para o primeiro emprego, onde um recém-formado vai passar a marcar os primeiros passos e, se for bem sucedido, é automaticamente transferido para uma média ou grande empresa, deixando uma quantia considerável na empresa que o “formou”.

 

Embora essa analogia seja interessante, é importante notar que o mercado de trabalho é complexo e influenciado por uma variedade de factores, incluindo habilidades, experiência, educação, cultura organizacional e muito mais. A comparação com o mercado de futebol é apenas uma maneira de ilustrar possíveis mudanças nas dinâmicas de contratação e mobilidade profissional.

 

Até lá, continua a ser um sonho meu e… seu, talvez!

Luís Joaquim
Luís Joaquim
Especialista em Gestão e Desenvolvimento Humano
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15 Comentários
  • Meu Kamba Luís Joaquim Parabéns pela rica reflexão. Adoro a maneira sonhadora e inovadora em que abordas os teus temas. Um sistemas agressivo e dinâmico como este obrigaria os agentes/Empresas a publicar a performance da empresa, mas também dos seus funcionários. Dando assim visibilidade aos funcionários para o processo do Draft ou para possível transferência. Mas em torno deste processo surgeriam varios transtonos tais como os que bem frisaste. Menciono somente uma a continuidade do DNA corporativo. Ex. O tic tac do Barça de ontem ja não existe hoje…

    • Uma abordagem que nos levar a repensar a mobilidade dos profissionais e os modelos de contratos actuais. Nos remete igualmente a ver a importância da existência de agências de gestão de quadros/profissionais.

      Já agora, em forma de opinião, começa já a trabalhar na criar de uma Startup que actuaria numa primeira fase como olheira de profissionais.

      Parabéns pela forma que narras e a analogia que fazes dessas duas realidades, por sinal diferentes.

    • Meu caro Armando, temos um caminho muito grande pela frente para sonharmos com esta realidade, mas uma coisa é certa: não estamos tão distantes dela.

      Muito obrigado pela leitura.

  • Uma abordagem que nos levar a repensar a mobilidade dos profissionais e os modelos de contratos actuais. Nos remete igualmente a ver a importância da existência de agências de gestão de quadros/profissionais.

    Já agora, em forma de opinião, começa já a trabalhar na criar de uma Startup que actuaria numa primeira fase como olheira de profissionais.

    Parabéns pela forma que narras e a analogia que fazes dessas duas realidades, por sinal diferentes.

  • Alfredo meu amigo, muito obrigado pela leitura.

    Vamos começar a trabalhar neste projecto e tentaremos fazer com que se adeque ao nosso sonho.

  • Uma boa abordagem e proativa .Precisaremos reflectir um pouco más com os desafios se tivemos de aplicar no mercado de trabalho,sabemos que, o mercado de trabalho é muito complexo, as boas ofertas levará as empresas a maior resultados financeiros, como alguém disse uma vez ” o capitalismo é um sistema de crise permanente” poderá levará a uma grande caus ao mercado de trabalho..

    • Meu grande companheiro Anilton, devemos estar atentos e vigilantes aos desafios que o mercado nos impõe, e para isso, devemos nos preparar para o futuro.

      Obrigado pela leitura.

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