Quem por cá anda com alguma regularidade, pelas ruas da internet, sabe mais ou menos quem é Baptista Miranda, ou pelo menos deveria se preocupar em saber: um “furacão” que a pobre internet angolana gerou do nada (?).
A calculadora e os números que nela vejo não me enganam. Actualmente, Baptista caminha para a marca dos 3 milhões e meio de seguidores/fãs, acumulados entre as redes sociais Instagram, Youtube, Tik Tok, Facebook e Twitter.
Dos vídeos aleatórios no princípio da “carreira”, sobre o seu dia-a-dia, sem a qualidade que se exige, para ser um Youtuber de topo, na sua humilde residência em Benguela, o jovem construiu uma base de fãs sólida que cresce de forma exponencial há cada dia. Arrisco-me a afirmar que contam-se aos dedos as personalidades fora do chamado showbiz angolano que acumulam tais números.
Mas afinal, como um diamante destes passou despercebido aos olhos das marcas nacionais, que apostam com alguma regularidade nos chamados influencers como peças-chave das suas estratégias digitais?
Há quem diga que o facto de Baptista ter muitos seguidores brasileiros influenciou, já que, à partida, as marcas pretendem comunicar para o público local e não para o brasileiro; outros defendem que as marcas fazem a escolha dos influenciadores digitais de forma “elitista”, optando quase sempre por aqueles que estão constantemente em certas mídias e dentro de círculos que as mesmas pré-estabelecem.
Estes dois argumentos podem estar certos ou errados, em pouco ou em nada importam. O que importa mesmo é a incapacidade de lapidação que as marcas demonstraram depois de um diamante bruto ter brotado bem debaixo dos seus narizes. Incapacidade esta que nos fez perder a oportunidade de presenciar de perto o brilho de Baptista, deixando esta oportunidade para as marcas e o público brasileiro, que, diga-se, estão a aproveitar como nós não o fizemos.
Enquanto profissionais da área há algo que desde cedo aprendemos na academia ou no exercício das nossas funções diárias: marketing não é sobre as ferramentas que temos disponíveis, mas sim, sobre o que somos capazes de fazer com estas mesmas ferramentas. Isto por si só deixaria cair por terra qualquer argumento que tentasse defender o porquê de o Baptista Miranda não ser uma “ferramenta” atractiva para marcas nacionais.
Não encontrar a melhor forma de tirar partido da visibilidade de Baptista Miranda foi um erro de todos que tiveram a oportunidade de interferir no processo e não o fizeram: i) dos departamentos de marketing das marcas que não conseguiram ver a oportunidade e pensar em formas de retornar o investimento na possível parceria e ii) das agências de comunicação que não souberam convencer os seus clientes da mais-valia na parceria Marca vs Baptista ou vice-versa.
Ao escrever esse texto, lembrei-me que, o marketing de influência como tal é implementado de forma pouco original cá. Importa-se ou faz-se, normalmente, copy and past do que é feito em outras geografias, sem o mínimo de adaptação à realidade local, o que abre espaço para questionamentos: será que as acções que algumas big brands realizam dentro deste âmbito têm realmente trazido retorno? Como é feita e que ferramentas são usadas para a medição dos resultados? Provavelmente, alguém dirá que são outros quinhentos e temas para outras discussões.
A verdade mesmo é que, pelos vistos, as coisas correm de vento em popa para Baptista, nesta “aventura” em terras do Samba, já que o mesmo afirmou em tempos num tweet que, ir ao Brasil foi das melhores coisas que fez na vida. Oxalá que sim, pois, somos muitos a torcer para o seu sucesso.
A outra verdade é que caso alguma marca nacional pretenda trabalhar com Baptista Miranda, o preço a ser cobrado não será o mesmo de há alguns meses, antes de Baptista voar para o Brasil. E faz sentido que assim o seja, afinal, há que se recompensar a valorização da imagem dele.