Viver a dois já exige alguma dose de paciência, negociação e inteligência emocional. Agora, imaginem o que é viver com alguém que também é profissional de marketing, com cargo de liderança, mente criativa e opiniões sobre tudo o que é a tua vida profissional, tal como o design do teu último post ou o spot de rádio que estás a desenvolver. É esta a nossa realidade.
Mrs. Smith: rainha do storytelling, vive entre caos criativo e essa coisa do “Out of the Box”. Consegue se envolver de alma e coração a mais de 1000 projectos ao mesmo tempo sempre com o máximo de foco. Faz spots de rádio enquanto está na fila do trânsito. E limites? Não existem!
Mr. Smith: Obcecado por métricas, persegue KPIs como um verdadeiro detective. O único “romance” que admite é entre a segmentação e o equilíbrio entre ATL e BTL. Estratégia e desenvolvimento de equipas multifuncionais são as suas grandes ferramentas que não se cansa de enaltecer. Amante do Marketing de Guerrilha e capaz de mover montanhas para levar avante os seus projectos mais ousados.
Discussões acesas? Claro! A mais recente: “Devemos apostar assim tanto no digital? Quanto representa o digital para o negócio?” Resultado? Estratégia híbrida. Venceu o amor… e o algoritmo.
Não é só um relacionamento. É uma guerra fria de estratégias de marketing, branding, campanhas mais ou menos virais até ao detalhe de design de uma peça de comunicação trivial.
Os jantares românticos têm sempre um bocadinho de análises de case studies e uma pitada de vinagre nas estratégias do outro. Um diz “aquela campanha foi incrível” e o outro responde “foi normal, previsível e mal-executada”.
Discussões começam com “passa o sal” e terminam em “não acredito que ainda defendes Out-of-Home em pleno 2025” ou “desde quando é que o digital é o único foco de comunicação?”
Durante o pequeno-almoço, ele elogia a nova acção do concorrente — ela sorri, mas por dentro está a preparar um reposicionamento só para provar que ainda é rainha do marketing e vai fazer muito melhor do que o concorrente.
No caminho para o trabalho, vão em postos de rádio diferentes só para poder dizer que o spot do outro não é tão bom, e no sofá, em vez de Netflix, a luta é pelo comando… para ver quem põe primeiro o anúncio da própria empresa na televisão.
Ambos querem ter a melhor ideia. A melhor equipa. O melhor budget aprovado.
Às vezes o amor mede-se em KPI’s de campanha, o relacionamento avalia-se pela taxa de conversão (emocional, claro).
A competitividade é real. Mas saudável… claro que umas vezes sai uma maldade, o “eu penso melhor criativamente” e a resposta do outro “e eu penso melhor estrategicamente” não fica para trás. Palavras como química, empatia ou paixão estão muito presentes na sua vida a 2, é frequente dizerem a ideia que tiveram ao mesmo tempo que, por vezes é a mesma quando se debate a melhor forma de fazer isto ou aquilo.
Mas no meio deste duelo de grandes mentes, há uma estranha cumplicidade. Só ela percebe o cansaço mental de uma reunião onde se passou mais tempo a explicar o que é funil de marketing do que a tomar decisões. Só ele entende o trauma que é tentar justificar uma campanha institucional de construção de marca ao Board, que só sabe perguntar “mas como é que isso nos faz vender mais?”
E no fim do dia, há um abraço que apaga tudo o que possa ter corrido mal no dia e um respeito mútuo.
Porque ambos são bons, mas juntos são extraordinários e essa disputa saudável é um ponto chave do que assegura o elevadíssimo ROI deste relacionamento.
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Artigo escrito por:
João Poiares Santos – Director de Marketing da Noble Group
Paula Quintas – Directora de Marketing do Hipermercado Kero