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Bem-vindos ao show dos 70 mil Kwanzas

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Por Targeting
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Como profissional de RH, ao ler este novo Decreto Presidencial n.º 152/24 de 17 de Julho sobre o salário mínimo, a primeira reacção foi basicamente: Estamos mesmo prontos para isso? Porque, sinceramente, parece que estamos a caminho de uma “Viagem do Despedimento” com bilhetes só de ida.

A ideia de aumentar o salário mínimo para 70.000 Kwanzas (e depois para 100.000 num ano, como se estivessem a anunciar um panfleto de uma festa badalada) é um óptimo presente… se fôssemos todos familiares da Alice e vivêssemos no famoso País das Maravilhas, onde não existe inflação, crise financeira e uma economia em colapso. Mas, aqui na nossa bela e rica nação, país grande e belo, isto é mais como um presente de grego.  As empresas, que já estão à beira de um ataque de nervos com os custos operacionais, agora terão que “gastar” ainda mais para manter os seus funcionários? Claro, vamos todos pensar que isto vai correr bem! E se não correr? Bem, o bom e velho “despedimento colectivo” está à espreita, pronto para “salvar o dia”… ou acabar com ele.

Com a crise financeira, o aumento do salário mínimo pode parecer uma medida necessária para proteger o poder de compra dos trabalhadores. No entanto, dado o ambiente de inflação galopante, há o risco de que esses aumentos salariais se traduzam em uma espiral inflacionária, onde os preços sobem à medida que os salários aumentam, anulando parte dos benefícios pretendidos.

Despedimento Colectivo: O Novo Normal?

Então, a matemática é simples: se aumentar os salários e os lucros não aumentarem magicamente ao mesmo tempo (spoiler: não vão), qual é o plano B das empresas? Mandar pessoas para casa! Simples assim. Porque, convenhamos, com a crise actual, esperar que as empresas consigam absorver este aumento sem cortar pessoal é como esperar que o Kwanza se torne a moeda mais forte do mundo (para muitos é!).

Resultado? Desemprego em massa, pessoas nas ruas, e um povo com menos poder de compra. Isto não poderia ficar mais perfeito, certo? O círculo virtuoso da economia angolana será, basicamente, um grande círculo de fogo, onde as empresas vão queimar recursos até não sobrar pouco ou nada.

Competitividade: Adeus, foi bom conhecer-te!

Aí está o problema. Com este aumento nos custos operacionais, o que vai acontecer é que os produtos e serviços ficarão mais caros. E, num país que já importa quase tudo (basicamente, qualquer coisa que não seja petróleo ou problemas), isto podemos considerar como um tiro no pé. Quem vai pagar essa conta? Todos nós, claro!

Então, se as empresas tentarem passar este custo para os consumidores (e é o que vai acontecer ou já deve estar a acontecer), devemos nos preparar para ver os preços subirem mais rápido do que o próprio salário. A inflação vai dançar nas nossas caras, enquanto todos assistimos, sem conseguir acompanhar o ritmo.

E as pequenas empresas? Boa sorte…

E as microempresas e startups? Estas terão o “alívio” de pagar Kz 50.000,00 como salário mínimo. O que é uma bela piada, porque muitas delas mal conseguem respirar no cenário actual. Imaginem um microempresário a tentar pagar isto e ainda manter as portas abertas. Não vai resultar. Mas, pelo menos, têm a opção de tentar a sorte com o governo, pedindo para pagar abaixo do mínimo por até 24 meses! Um verdadeiro presente de Natal antecipado… se o Pai Natal fosse um credor impiedoso.

Desemprego em massa: A realidade trágica

Resumindo, a kunanguisse não é mais uma ameaça distante. Está a bater à porta e, se continuarmos neste caminho, pode entrar de vez. E, quando isto acontecer, o que vai sobrar? Uma população sem emprego, sem poder de compra, e um mercado completamente parado.

No fim do dia, as empresas não vão conseguir competir nem localmente, nem globalmente. Se antes já estávamos em apuros, agora estamos a afundar com estilo. Porque o aumento dos salários, sem uma economia forte para sustentar isto, é como tentar encher um balão furado: só parece bonito até o ar começar a escapar.

A realidade da economia angolana: Importar problemas

E o grande problema é que Angola importa tudo, menos soluções. Quanto mais subirem os salários, mais as empresas vão lutar para sobreviver. E adivinhem quem paga? Todos nós, com preços mais altos em tudo o que é importado. O país terá que importar mais porque a produção local não aguentará este aumento de custos, e isso vai deixar-nos mais dependentes das flutuações internacionais. É um círculo vicioso que só faz a nossa dívida externa crescer, junto com a nossa dor de cabeça.

Conclusão: Bem-vindos ao show!

Então, como profissional de RH, a nossa função agora é tentar lidar com esta situação, para que as empresas não entrem em colapso total, enquanto tentamos manter os funcionários motivados. Boa sorte para nós!

Se o aumento salarial era para ser uma forma de garantir dignidade aos trabalhadores, o risco é acabarmos garantindo exactamente o oposto: mais desemprego, mais miséria e uma economia ainda mais frágil. Brilhante plano, não?

Agora a sério, a nossa preocupação central deve ser a sobrevivência das empresas. É necessário avaliar medidas de mitigação, como reestruturação organizacional, revisões de contrato de trabalho e optimização de processos internos para manter a eficiência com menos pessoal, além de tentar negociar acordos colectivos que possam suavizar o impacto das novas exigências salariais.

O impacto do decreto sobre o aumento do salário mínimo vai além das questões internas das empresas. Ele carrega o risco de desestabilizar sectores importantes da economia, agravar a inflação e aumentar o desemprego, criando um ambiente mais desafiador para o desenvolvimento económico em Angola.

Como profissional na área, devemos navegar por essas águas turbulentas com cuidado, protegendo tanto os interesses da empresa quanto o bem-estar dos colaboradores. O decreto traz desafios reais, mas com planeamento estratégico, diálogo aberto e foco na eficiência, as empresas podem encontrar soluções que minimizem os danos. O aumento do salário mínimo pode ser gerido de forma sustentável, desde que as empresas adoptem uma abordagem proactiva e inovadora para enfrentar as novas exigências do ambiente económico.

Luís Joaquim

Especialista em Gestão e
Desenvolvimento Humano

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